A ORIGEM DO NOME OLINDA.
As malocas dos caetés amanheceram em azáfama. Até as mulheres atendiam ao
chamados dos borés.
A valente tribo se preparava para assaltar o acampamento dos brancos, onde
Duarte Coelho Pereira, recém-chegado de Portugal, com sua esposa D. Brites de
Albuquerque, e o cunhado Jerônimo de Albuquerque, tomava posse da capitania
de Pernambuco, que lhe fora doada por Dom João III e dera início à povoação.
Os fidalgos e amigos, companheiros do donatário, sabem, por informações dos
índios tabajara, seus aliados, que, além dos morros, existe a poderosa nação dos caeté.
É ano de 1535. Tarde de verão. Duarte Coelho e sua gente descobrem, no morro
onde está a Sé, o sinal guerreiro, denunciador das hostilidades indígenas.
Todos se preparam e esperam. Um pouco mais, e uma saraivada de flechas dá
início ao combate.
A luta se intensifica.
Caem em poder dos brancos, como prisioneiros, muitos índios caeté. Há entre
eles também mulheres. E, no meio delas, está a bela índia Iangaí.
Embora prisioneira, Iangaí, com altivez, zomba dos brancos.
Duarte Coelho é atingido por uma flecha. Recolhe-se, com a ferida sangrando.E a batalha prossegue, sem desfalecimentos.
Tabira, chefe dos tabajaras, conduz os prisioneiros à presença do donatário.
Esse, ao ver Iangaí, radiosa de revolta e envolvida pelo frescor de sua bela
juventude, exclama fascinado:
-"Ó LINDA!"
Pede-lhe Tabira então, consentimento para sacrificar os prisioneiros. Duarte Coelho, porém, exclui Iangaí.
E a formosa índia, quando partem seus companheiros para o sacrifício,
envolve-os com um olhar doloroso de angústia, seus lábios balbuciam qualquer
coisa, e uma lágrima molha sua linda face bronzeada do sol. Entre os condenados à
morte está Camura, o eleito de seu coração guerreiro, um índio de olhar penetrante
e músculos fortes e muito desenvolvidos.
Hajissé e Pirajibe, destemidos guerreiros tabajara, conhecedores da grande paixão e fidelidade de Iangaí, sabem que ela jamais conseguirá viver longe de sua tribo e de seu amor e por isso, passam a vigiá-la secretamente.
Duarte Coelho, perdidamente fascinado com a beleza da índia, procura-a,
escondido da esposa, mas de Iangaí só recebe o desprezo.
Certo dia, uma índia tabajara que havia se casado com Jerônimo Albuquerque,
conta a Duarte Coelho que sua "ó linda", como ele a apelidara, planejava
matá-lo. Mas ele, cego de amor, não acredita. Afinal, ama-a ardentemente e o amor é sempre condescendente.
Desprezado por Iangaí, Duarte Coelho se consola em citar seu nome. E o faz com volúpia. Há naquele apelido um mundo de quimeras que ela alimenta. E quando
escreve para Portugal, vai datando as suas cartas:"Desta Pernambuco ou desta
Olinda da Nova Lusitânia etc.".
A nobreza de uma homenagem a quem lhe
despertara amor e o despreza.
Um dia, a notícia se espalha: o último dos caeté desaparecera: Iangaí fugira!
Saem em sua perseguição.
E, após incessante procura, encontram o cadáver da bela índia envolta em
folhas de timbó, abundante nas matas de Palmira, próximas das ruínas.
Iangaí se suicidara!
Vencido, assim, o derradeiro caeté que fora o próprio amor de Duarte Coelho,
esse incrementa a construção da cidade e lhe dá o nome de seu sonho: Olinda.
Conta-se que ainda hoje, quando o sol se põe, viajantes ouvem, pelas
imediações das ruínas de Palmira, juntamente com o sibilar modulado das
cigarras, o cantar longínquo de uma mensagem de saudade. Mas ninguém ainda pode identificar aquela voz misteriosa de mulher.
Poucas foram as mulheres indígenas que se sobressaíram na história, entretanto, Iangaí é um belo exemplo de uma mulher-índia que não se submeteu aos ditames dos conquistadores, contrariando o pensamento arcaico que nos fazia
acreditar que essas mulheres possuíam um comportamento sexual dominado pelo
instinto.
Olinda fica a 7 Km de Recife é o cartão postal que retrata a beleza de nosso
Brasil colonial. Serve também de palco para a festa das cores mais alegre e
irreverente do país: o animado frevo.
A bela Olinda, perpetuada pelo tempo, emerge em meio ao verde intenso da
vegetação, destacando-se por seus casarios centenários e suas imponentes
igrejas brancas. À paisagem somam-se: um mar azul turmalina, sedentas areias
douradas salpicadas de coqueiros e uma atmosfera artística que povoa a
cidade.
Mas Olinda ainda é muito mais: é história, é arte, é cultura, é Brasil!
Fonte:
L. C. Cardoso Aires: "A Origem do Nome Olinda", Revista do Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, Vol. XXXII, ns. 151 a
154, Recife,
1934, pp. 45-45.